O otorrinolaringologista Dr. Edmir Américo Lourenço, da Faculdade de Medicina de Jundiaí, no interior paulista, deu início à aplicação de vacinas terapêuticas feitas por ele mesmo em indivíduos com rinite alérgica. Chamada de imunoterapia, a técnica surtia efeitos impressionantes. Mas como provar sua eficácia?
Em 2005, ele começou a recrutar pacientes e submetê-los a um protocolo-padrão, como mandam as boas práticas da ciência. Dez anos depois, os resultados demonstram o que Lourenço suspeitava: 79% dos voluntários viram as crises de espirro, coriza e coceira sumirem de vez.
Para o estudo, publicado no periódico International Archives of Otorhinolaryngology com o Título de: “Subcutaneous Immunotherapy Improves the Symptomatology of Allergic Rhinitis”, o médico selecionou 281 pacientes entre 3 e 69 anos — além de rinite alérgica, alguns sofriam de asma. O primeiro passo foi realizar o teste de puntura nestes pacientes, para determinar e quantificar para quais e alérgenos os pacientes tinham mais sensibilidade. Foram testados alérgenos para ácaros, fungos, epitélio de cão e gato, pólens comuns na região e penas de pássaros também comuns na região.
A partir dos resultados, foi elaborada uma imnuoterapia injetável personalizada para cada paciente. Este é um conceito chave na imunoterapia: o tratamento é personalizado, baseado em alérgenos específicos. “A ideia é dessensibilizar o paciente até ele ficar sem sintomas”.
Durante 14 meses, os voluntários receberam mais de 30 aplicações da vacina. As primeiras doses continham uma quantidade pequena dos alérgenos. A segunda, uma concentração média; a terceira, mais forte; e a quarta e última dose, extraforte.
Os pacientes eram monitorados até 30 minutos após a aplicação — em caso de reação, e dependendo do grau da reação os pacientes teriam de receber uma aplicação de epinefrina 1:1.000 para reverter a reação. Reação são incomuns, mas podem ocorrer, mas não significa que o paciente não possa dar continuidade a imunoterapia, a dose e o intervalo das aplicações podem ser ajustados para que não ocorra reações futuras. Logo após as primeiras sessões, os pacientes relataram estar com o nariz desobstruído.
Só há um, porém na história: o preço do procedimento. Alguns hospitais públicos até fornecem a imunoterapia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas a maior oferta se encontra em clínicas particulares. “O tratamento chega a custar entre 6 mil e 12 mil reais por ano”. A segunda melhor opção é seria a aquisição diretamente da Farmácia que pode fazer a imunoterapia personalizada a partir de um receituário do médico que esteja assistindo o paciente, um laboratório onde o custo benefício é razoável é a Anthygenus, que tem um ótimo atendimento além de prestar atenção farmacêutica personalizada.
A imunoterapia que combate a rinite alérgica não é uma técnica nova. Pelo contrário: trata-se de um método centenário. Em 1911, o cientista inglês Leonard Noon (1877-1913), publicou o primeiro artigo defendendo a eficácia das vacinas terapêuticas contra essa condição crônica — hoje, ela afeta quase um terço da população. “Mas desde 1835 havia relatos de que era uma alternativa promissora”, conta o médico Dr. José Carlos Perini, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, neste ano.
Desde então, centenas de pesquisas fortaleceram as evidências de que expor o organismo a micro doses dos alergênicos é uma forma de alterar o sistema de tolerância imunológica aos alérgenos desencadeadores das alergias. No final da década de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou até a reconhecer a imunoterapia como único procedimento médico capaz de alterar o curso de uma doença alérgica.
Para quem a vacina funciona
Acontece que ela não é para todo mundo. Médicos costumam prescrevê-la para indivíduos que apresentam imunoglobulinas do IgE específicas para os alérgenos que desencadeiam as crises. A rinite alergênica é uma das formas mais comuns, mas não a única.
Além disso, as vacinas dão mais certo em quem é sensível a poucos alérgenos. “E os melhores resultados são contra os ácaros, uma das alergias mais frequentes”, cerca de 95% das alergias respiratórias são causadas por ácaros.
São tantos detalhes que, para ter sucesso no tratamento, o jeito é procurar um alergista com experiência na área — e que faça as aplicações em uma clínica ou hospital com estrutura para atender eventuais reações às doses. “Embora não haja relatos de mortes há mais de 30 anos, a imunoterapia pode ter consequências fatais”, alerta o Dr. Perini.
Também é bom frisar que falar em sucesso não tem nada a ver com cura — essa ainda não existe. A proposta da imunoterapia é deixar o indivíduo livre de crises muitos anos ou décadas após o do ciclo de injeções. “Os outros tratamentos contra a rinite duram o tempo de ação do medicamento. Se o indivíduo para de tomar, o efeito acaba”, esclarece o médico Dr Edmir Lourenço. “Com a imunoterapia, a proteção se mantém”, assegura.
Ainda assim não dá para relaxar 100%. “Se você tem 3 milhões de anticorpos e vai para uma casa de praia úmida e suja e entra em contato com 5 milhões de ácaros, as crises vão voltar”, ilustra o Dr. Lourenço. É como entrar em um campo de batalha com milhares de soldados a menos: as perspectivas não são nada favoráveis.
Por isso, certos cuidados permanecem imprescindíveis após as vacinas. “Lave sempre o nariz com soro fisiológico, mantenha a casa limpa e evite entrar em contato com o causador da alergia”, exemplifica a imunologista Dra. Mariana Jobim, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Medo de agulha
As picadas frequentes fazem você torcer o nariz para a imunoterapia? A versão sublingual já está em comercialização. Em um trabalho americano publicado recentemente na revista Allergy & Asthma Proceedings, foram revisados experimentos feitos até hoje com as duas técnicas. O Food Drugs and Aliments americano em 2014 já havia considerado a eficácia de ambos as imunoterapias.
E ambas se mostraram eficazes contra a rinite e a asma. “Mas a sublingual só funciona nas pessoas que seguem as prescrições médicas à risca”. Isso porque o paciente tem que tomar religiosamente as doses no período indicado para obter os benefícios da imunoterapia.
Fora o custo e as agulhas, tem a questão do tempo de acompanhamento: por ser longo, eleva o risco de desistência no meio do caminho. Mas os cientistas também estão pesquisando maneiras de resolver esse entrave. Entre as soluções estão emplastros contendo baixas doses de alérgenos e esquemas com número reduzido de injeções.
Como se vê, a centenária imunoterapia ganhará novas apresentações farmacêuticas.
Diagnóstico mais preciso
O melhor diagnóstico para alergias ainda é o teste de puntura, devido a alta gama de alérgenos que podem ser testados de uma única vez e as aplicações tem uma reação in vivo em cerca de 15 minutos, utilizando alérgenos de bons laboratórios.
Que tipo de rinite é a sua?
Persistente
Dura ao menos de quatro dias a quatro semanas consecutivas. Facilita o desenvolvimento de resfriados, gripes e sinusite. Está mais associada a pelos de animais, ácaros e alimentos.
Intermitente
Manifesta-se por no máximo quatro dias ou menos de quatro semanas seguidas. É conhecida como rinite sazonal, porque costuma estar atrelada à mudança das estações. Por trás das crises geralmente estão mofo e pólen.
Leve
A crise é tão branda que não chega a afetar as atividades diárias ou o sono.
Moderada
Os sintomas começam a incomodar, abalando o repouso e a rotina.
Grave
As crises prejudicam seriamente o descanso e a qualidade de vida.
O que causa rinite?
- – Pólens
- – Ácaros
- – Fungos
- – Pêlos de animais
- – Penas
Texto originalmente publicado na Revista Saúde e revisado e atualizado pelo Dr. Anderson Matos em Novembro de 2018.